quinta-feira, 17 de julho de 2008

Embalagem Vazia

Tudo acontece nos dias chuvosos. É fato. Dessa vez, não foi diferente.
Mateus corria para casa, a três quarteirões dali. Estava encharcado da cabeça aos pés. Aquela não era daquelas chuvas geladas, e sim daquelas que queimam até os ossos.

Quando faltava cerca de duzentos metros para chegar a casa, Mateus virou-se para o lado e parou. No portão da casa de Dona Maricota havia uma embalagem de leite. Vazia.

Então se aproximou da pequena embalagem. Estava amassada e levemente pisoteada. Mateus a pegou.

Viu no fundo da embalagem um pequeno escrito: "Marcelo e Júlia". Logo se viu pensando na menina, filha de Dona Maricota, a escrever no fundo da embalagem o seu nome e o do namorado.

Mateus virou a caixa. Havia um desenho de pato Donald, em laranja, num pequeno pedaço azul. Pôs-se a pensar no Joaquim, outro filho de Dona Maricota, a carimbar todos os pedaços descoloridos da casa, com um Donald alegre e laranja.

Olhando o topo da embalagem, Mateus observou um pequeno corte na diagonal. Logo a imagem do Sr. Ronaldo cortando a embalagem de leite para preparar uma xícara de café com leite, surgiu nos pensamentos de Mateus.

Junto ao corte, uma marca de batom, em toda a extensão do corte, brilhava como uma flama vermelha. Dona Maricota, abrindo a geladeira, bebendo o leite no gargalo e jogando a embalagem pela janela, atingiu Mateus, fazendo-o tocar a campainha.

-Mateus! Meu filho, está chovendo! Vai pra casa!
-Dona Maricota, Tome a sua embalagem de leite vazia.
Dona Maricota pegou a embalagem. Virou-a entre as mãos. Vazia.
-É só uma embalagem vazia. E arremessou-a na rua.
-Dona Maricota! E as lembranças da Júlia, do Sr. Ronaldo, do Joaquim e as suas?
-É só uma embalagem vazia. E voltou para dentro de casa.

Mateus Caminhou até a embalagem. Pegou a entre as mãos e jogou a embalagem no cesto de lixo.
-Ela é só uma embalagem vazia.

E voltou pra casa. Pensando:
-Joguei as memórias de uma família no lixo.

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