segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sobre Andrea

Você pode não entender muito bem meus sentimentos sobre a Andrea. Querendo ou não, nem mesmo eu entendo, meu colega. Espero poder entende-la um dia.

Ou até mesmo me entender.

sábado, 13 de setembro de 2008

Uma carta Mexicana

Joana
Dois anos se passaram desde minha ultima carta. Dois anos de muita dor e saudades da minha daminha de cabelos rubros e tênis roxos. Dois anos de modorra, fadiga, espreguiçadeiras de plástico com um pé quebrado e sorvetes de baunilha. Dois anos da mais macabra vida que qualquer ser humano poderá passar. Estou sendo irônico quanto ao sorvete de baunilha, claro, você entendera mais a frente. De qualquer forma, devo lhe pedir uma coisa. Peço-lhe desculpas por não ter respondido sua ultima tão breve.
Enfim, tenho de contar-lhe o que me ocorreu.
Eu era imaturo. Eu não sabia mesmo o que estava fazendo quando aceitei aquele emprego ridículo no México. Mas quão fascinante era a comida Mexicana, a dança mexicana, a cultura mexicana. O mundo mexicano em si. Era, como disse. Tudo uma pura ilusão.
Comecei trabalhando como promotor de eventos. Eu fazia o curso de publicidade na faculdade da cidade do México tranquilamente, quando arrumei um segundo emprego infernal. Era dos diabos mesmo. Eu ia fazer o marketing para uma empresa local muito grande. Eu mesmo não podia acreditar no que estava acontecendo. Realmente, não devia acreditar.
Eu fui enganado.
Na verdade, eu estava assinando um sub-contrato falso, onde o papel carbono marcava na realidade um contrato forjado. Perdi todo o meu dinheiro naquele contrato. Perdi tudo, menos meu apartamento. E como tinha pedido demissão do antigo emprego, não tinha dinheiro nem pra comer.
Minha moça.
Não fale ao meu pai o que aconteceu comigo. Enviei cartas a ele dizendo que estava bem e até mandei uma quantia em dinheiro, só pra parecer que eu estava bem. Isso há umas duas semanas atrás.
Mas não era só isso que tinha pra te falar.
Quero saber como esta seu irmão. A ultima vez que me escreveu disse que ele tinha quebrado o braço. Espero que não tenha sido nada de muito grave. Sei que um tombo do segundo andar de um apartamento parece muito, mas não me preocupei. Sei que o Marquinhos esta muito bem.
E quanto ao Eduardo, bem, não sei te falar muito bem o que eu acho da situação. Acredito que o suicídio seja para poucos e ele não era um dos que merecia. Não que se deva merecer pra morrer, mas é que ele tinha muito que fazer por você ainda. Recebi a carta de suicídio que ele lhe escreveu. Não respondi, mas eu a recebi e a li com muita atenção. Ele não me pareceu muito convincente, ele com certeza tinha outros motivos. E o baú? O que tinha dentro daquele baú? Você não quis me dizer. De qualquer forma, eu vou descobrir, pois estarei chegando à cidade dentro de breve.
Sim, eu consegui sair do México sem sofrer nenhum dano muito grave. Cheguei clandestino aos Estados Unidos e consegui arrumar passagens de volta a São Paulo com o dinheiro do apartamento que eu vendi.

Peguei sua última carta de novo. Nela tinha pequenas rugas no papel. Varias rugas pequenas, redondinhas e belas. Diga-me, por que chorava enquanto escrevia? Eu não sei o porquê daquele trecho. Se fosse onde se referia ao Eduardo, eu até entenderia, mas se trata na parte do “Eu perdi meus tênis roxos.” Lá havia uma ruga bem marcada, e quase o papel se rasgou ao escrever.
Joana, Joana...
Achou que eu só lia suas cartas sem interpretar os sinais do seu corpo. Eu posso saber até a posição na qual você escrevia nessa ultima carta. Mas pela variação de caligrafia sou capaz de afirmar que você a escreveu em cerca de doze fragmentos de tempo, com leves pausas de três minutos cada. E assim afirmo que você ficou nervosa ao me escrever.
Joana.
Você ainda me ama, assim como disse quando eu parti? Eu nunca retirei o que eu disse sobre você. Eu sempre pensei em você e nunca dormi com outra garota sem ter você na mente. Eu já havia te dito isso mais de uma vez, mas você não acreditou em mim. Eu sei que pareço ridículo, mas eu criava uma Joana a cada esquina que eu cruzava, tentando desesperadamente encontrara você em algum corpo. Em alguma voz. Em algum desejo. Em algum ensejo ou vontade de me amar. Eu nunca fui tão amado quanto por você Joana. Acredite, seu amor foi o que fez agüentar firme a minha existência.
Provavelmente outros homens já tenham lhe dito isso antes. O Eduardo, talvez. Mas é que você, Joana, é a pessoa mais incrível que conheci. Desde aquele dia, em que você entra no restaurante com um belo casaco rosa. Eu sempre odiei aquele casaco rosa. Mas se você gostava dele.
Enfim, peço-lhe mais uma vez desculpa pela demora, pelo meu irmão ter feito aquela burrice e te deixado assim, pela minha falta de bom senso ao te deixar.
Beijo Joana, eu sempre te amarei.
Do seu e exclusivamente seu.
Edgar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ReDescoberta

É muito engraçada a forma como o mundo gira e para no mesmo lugar.
Fale se não é.
Estava outro dia a procurar alguma coisa pra fazer, em frente a essa mesma maquina que esta na sua frente quando, de repente, eu vi algo. A janelinha do MSN subiu e algum ser estava ouvindo uma banda chamada Ludov.
Ludov, Ludov. De onde raios eu conheço essa banda?
Devaneio profundo, me veio na cabeça uma pequena cena inútil dos meus tempos de menino.







Há quatro anos atrás, eu tinha como lema uma musica da banda, chamada Kriptonita. Era uma musica que falava basicamente aquilo que eu precisava saber naquela época. E o videoclipe era basicamente a historia de uma mãe que perdeu a infância da filha. Enfim era isso.
Depois disso, nunca mais. Apenas leves comentários como “e no seu apartamentooo” [Princesa].

Baixadas pelo menos quatro musicas da banda [Rubi, Disco Paralelo, Dois a Rodar e Kriptonita], resolvi procurar os CDs e alguma coisa a mais que pudesse me satisfazer musicalmente. Eu estava deprimido de tudo que andava ouvindo, e eu sou a pessoa mais fácil para enjoar de musica.
O que posso dizer é que até agora, em oito dias de banda, não enjoei ainda.

A banda tem um som gostoso de ouvir. Não é metal, não é rock pesado, nem nada. É um ritmo bom pacas que muitos considerariam Indie. Lembra um bocado Pato-Fu e mais alguma outra banda do gênero, como Gram.
Enfim, a banda tem músicas muito boas. Bem ritmadas, como em Dois a Rodar, com letras bem subjetivas, Rubi, histórias cotidianas, Urbana, e mais algumas outras bem animadas, Da Primeira Vez.

Se for pra indicar alguma musica, ouça Urbana. Deixarei o link do videoclipe ai para vocês. Enfim, eu que não sou de indicar musica, peço para que ouçam Ludov.


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Soneto Insípido

Sua voz foi dissipada de meus sonhos
Seus olhos foram esmaecendo de meus lábios
Meus pesadelos se tornaram mais sábios
Meus lábios me traíram risonhos.

Suas mãos saltaram do meu pescoço
Seus cabelos enroscaram em meus ouvidos
As palavras, assim, perderam o sentido
O medo resumiu-se nesse frio colosso.

O desejo existiu
O amor fingiu
Os dedos sutilmente abandonaram-se no papel.

O calor viveu
A esperança esqueceu
E cobriu seu castigado rosto profundamente como um véu.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Quarta no Quarto

Vamos lá, meu amor.


Dançando a dança dos imóveis



Ao som da canção do silêncio.

sábado, 6 de setembro de 2008

De novo, Andrea

É sempre assim.
Já percebeu que toda vez que te vejo Andrea, chove? Não? Comece a perceber.
Hoje foi aquela tempestade, onde o meu guarda-chuva saiu voando de novo. Sabe, ele adora fazer isso comigo, me abandonar no meio da tempestade, e torcer. Eu só queria que você estivesse lá comigo, pra me ajudar a pega-lo, mas é pedir muito. Sei que você ainda não percebeu o que eu realmente quero contigo. Sei que você conversa comigo por educação. Sei que você nunca vai estar comigo a pegar o guarda-chuva quando ele voar.
Você nunca vai ser minha pessoa amada, Andrea.
Eu queria te dar um pouco de geléia de morango com torradas. Talvez você não goste, não sei ainda, mas eu sei que o café você prefere puro e sem creme. Eu percebi. Aliás, eu te segui durante várias noites. Marquei seus horários, consultei seu nome, descobri sua posição de matrícula do cursinho.
Eu fiz tudo por você Andrea.
E agora fui longe demais pra desistir de você.
Eu posso ver a cor das suas meias quando você as tira. Seus tênis são iguais aos meus, impregnam suas cores em nossas meias. Não quero ser o seu lavador de meias nem o aliciador de seus pés, mas eu tenho uma curiosidade enorme em ver como você tira o sapato e como você anda pela casa. O modo como você se despe. Não, eu não sou nenhum tarado de plantão, mas imagino a maneira graciosa que suas roupas são espalhadas pela cama.
Quer saber de uma coisa? Eu não vou tentar te esquecer porcaria nenhuma. Nesses últimos dias que passei ao seu lado, te ouvindo calmamente, eu estava berrando por dentro. Eu aclamava por fora. Eu ria. Eu gritava. Eu chorava. Eu morria por dentro. Você não deve ter percebido, assim como não percebeu que só nos encontramos nos dias de chuva.
A chuva era no meu rosto. E tinha o leve gosto de lágrimas.
Leve gostinho amargo das lágrimas que você não viu.
Estava ocupada pra ver. Mas não estava tirando as meias.
Sabe, eu fiz várias coisas sem perceber. Sabe a música? Sim, aquela primeira música. Se você pedir as propriedades do documento, vai ver um pequeno comentário. Eu escrevi lá porque sabia que você nunca ia ver. Mas eu prefiro assim. Que você não saiba, que você não sofra, que você não morra. Que você não coma geléia de morango com as torradas. Pode ser que você nunca as coma, ou que coma todo dia, mas isso é algo que talvez eu nunca descubra, ou descubra amanhã. Depende de nós. Aliás, de mim. Basta eu fazer uma misera pergunta.
Céus, por que é tão difícil fazer uma pergunta? Talvez porque essa pergunta seja tantas embutidas. Aliás, quantos milhares de sentidos podem ter em “você gosta de geléia de morango com torradas?”? Somente milhares! E o único sentido talvez nunca seja captado. Mas, Andrea, não me peça maiores explicações. Nunca vai me pedir também, eu sei, mas é sempre bom que eu possa pedir.
Eu cansei de mentir. Eu cansei de chorar. Eu cansei de espernear. Eu cansei de tomar iogurte de salada de frutas. Principalmente daqueles de pozinho, que você deve misturar no leite. Eu cansei de tudo. Mas não consigo me cansar de cansar de você. Eu me canso de você todo momento. E mesmo assim você me reconquista a cada fração de segundo que existe nesse relógio maluco que se chama coração.
Está desregulado.
Está atrasado.
Está muito adiantado.
Está sem pilhas.
Preciso de ajuste.
Preciso de açude.
Preciso de você.
Preciso chover.
Preciso comer.
Preciso amar.
Amar é me desregular.
Está desregulado. Está atrasado. Está muito adiantado...

E você ainda não tirou os tênis. Por favor, não os tire. Seria demais pra mim. Não quero ter como visão essa perfeição de ver você tirando os tênis. Suas meias. Suas roupas se espalhando lentamente pela cama. Não, eu não sou tarado, já disse. Aliás, estou sendo um bocado repetitivo, não?
Aliás, você nunca vai ler isto, Andrea. Simplesmente porque eu nunca vou enviar.
Então aqui vai o que eu realmente preciso dizer.
Eu preciso de você. Você, como eu disse a minha amiga Iluminada, é o raio de sol que brilha durante a noite. Você brilhou nos meus sonhos. Nos meus passos. Nos meus desejos. Você. Você. Você. Você é a droga mais viciante que eu poderia usar. Mais do que suco de caju, muito mais.
Tem mais mil coisas que eu poderia dizer, Andrea. Mil coisas. Mas acho quesó o que eu disse já está mais que suficiente. Talvez um dia, você me diga espontaneamente se come torradas de geléia de morango, se suas meias mancham, se você larga as roupas na cama, se você leu o meu pequeno comentário naquela musica. E responder a ele, sinceramente.
De novo, Andrea, conseguiu me arrancar do sono.
Não falo mais nada. Vou me silenciar e não mais me viciar.
Não mais do que já estou.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Soneto Incolor

Nesta rua de grades cinzentas
Espreita ansiosa por devoção
Do frio, que teu caule sustenta
Do mal, da raiz, do chão.

A orquídea floresce puramente
Seus raios dourados ofuscantes
Paralisam sucessiva e obscenamente
É a dor! É a dor! É ululante!

Prossegue, assim a flor dourada
Naquela rua incolor
Não anda, não fala, não nada.

E por mais que se insista
Ela é apenas uma flor
Aparece, desaparece e não deixa pistas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Radiografia Panorâmica [Medicina de Alice]

O mesmo ambiente da semana passada. Alice queria explodir de tanta dor de cabeça. Aquele cheiro de pasta, os latidos, a luz que pisca, as revistas mofadas, os quadros de auto-estima dental. A única diferença era a consulta: Radiografia Panorâmica.
Mordida cruzada. Era isso que a doutora havia dito. Provável uso de aparelho dentaria.
Agora era uma mãe e seu filho. Devia ter cerca de cinco anos no máximo. Mas já falava como alguém que tenha duzentos anos. Todo o tempo. A pergunta que era mais frequentemente repetida era: ‘Aquilo é azul ou verde, mamãe?’.
Alice revirava a bolsa furiosamente, procurando o pedido. Estava extremamente irritada com tudo aquilo. O maço de cigarros reluzia no bolso, preso a um papel dobrado. Não era o pedido, era uma carta de Lúcio.

‘Querida Alice
Fomos todos à praia já. Eu, Júlio e Ronaldo Esperaremos vocês as dez no quiosque de sempre, certo?
Leve seu protetor solar.
Beijo, te adoro.
Lúcio. ’


Lembrou-se que o papel estava na geladeira parda de sujeira. Por sinal, vazia. A única utilidade era colar recados.
Alice, Sandra e Rosana encontraram os garotos no quiosque. Às onze e meia. Os seis se sentaram sorridentes, sendo frequentemente observados. Mas nenhum deles realmente se importava com isso.
Alice e Lúcio trocavam olhares frívolos. O único atento a esse fato era Ronaldo, o garoto da sunga azul. Com a veia pulsando na testa, os olhos eclodindo das órbitas e os pés se contraindo de medo, o moreno tossia, evidentemente, querendo chamar atenção geral.
Alice tirou o pedido do bolso à direita. Entregou a moça do caixa, junto com o cartão de débito automático. A moça, rudemente, aceitou o pedido e passou o cartão na maquina.
Quando Alice terminou de pagar, se dirigiu a sala de espera e rapidamente foi chamada.
-Ponha sua cabeça ali e morda o plástico branco.

Senhor Odonto Malvado! Foi o que pensou Alice ao ver o aparelho. Assimilava-se a um capacete rotativo com uma cúpula para fixar a cabeça. Apesar do título, Alice o fez. Pôs a cabeça no capacete e mordeu o plástico.
-Tente não se mexer. Se possível, não respire.

Ele quer me matar! E começou
A máquina começou a rodar lentamente em volta da cabeça de Alice. Sentia que queria vomitar. Seu cérebro começou a vincular imagens de Lúcio. As pálpebras se fecharam. A máquina rodava velozmente. Ferozmente.

Não apague o Lúcio da minha mente! Por Favor!

Parou. Ela se sentia exausta. O mordedor de plástico quase se partira com a força que mordera.
-Pode aguardar na recepção, sim?
Pegou a bolsa e voltou pra sala azul. Os quadros de alta-estima dental sorriam diabolicamente, como se zombassem da pobre moça.

Exame entregue. Fones no ouvido. Batom retocado. Sol no rosto.

Lúcio na mente.