sábado, 8 de novembro de 2008

Rena de pelúcia, chaveiro de Alce

Toda vez que Luciano andava por algum lugar sozinho era assim.

A cada passo que ecoava sentia como se houvesse reverberações dentro dos seus pequenos miolos que, por acaso, andavam fervilhando de idéias tolas e incompreendidas. Era como se coletasse varias palavras ao longo do seu caminho, colocasse num liquidificador, pulsasse e bebesse aquela mistura de melancolia, alegria e frustração. Era como se coletasse os pensamentos de cada pessoa que cruzasse seu caminho, enfiasse numa batedeira, pulsasse e colocasse no forno lento, enfiando logo após aquela gororoba goela adentro.
Porém, dessa vez, tudo fora exatamente igual.

Sentou num banco exatamente no centro do corredor de um shopping que cheirava álcool. Aparentemente interessado num joguinho de celular, mas após longos dez minutos de pura modorra, se irritou e fora a procura. De um banheiro.

Cada pessoa, cada objeto, cada caveira em tênis de vitrine ficava guardado na memória e no cérebro oco de Luciano. Que, por acaso, não tinha preocupação nenhuma, a não ser ficar vivo e asseado até as oito da noite.
Era sete e quarenta e nove. Ou seja, era uma missão praticamente impossível, pois, a partir do momento que sua cabeça não agüenta nem mais o peso dos próprios cabelos, é difícil agüentar outro alguém. Mesmo que esse outro alguém sejam sua Rena de pelúcia ou seu chaveiro de Alce.

A vontade de ir embora, tomar um bom remédio e se esvair em sono e torpor era imensa. Mas, se fosse, e apenas se fosse, não poderia reclamar posteriormente que não fizera nada ao fim da tarde.
Apesar de já ter se divertido o bastante, coletado dez pensamentos alheios e variados. De variados tipos de pessoas:

*Eu não acredito que não tinha mais aquela blusa!

*Minha mãe não me comprou sorvete.

*O que aquele cara ta me olhando?

*Nossa, que gostosa!

*Caralho. Eu vou botar pra foder nessa porra.

*♫”Don’t you go to the broken bricks, girl!” ♪

*Quê que eu faço?

*Ligar para a atendente, mandar fazer novos contratos com a empresa Palestina e demitir o Romeu.

*Rosana, mio amoré. Aonde estas?

*Dinheiro? Dinheiro… Dinheiro!


...conseguia se divertir um pouco mais.

Óbvio!

Luciano era telepático e telecinésico. E tinha de agüentar até as oito da noite. E era sete e quarenta e nove.

Toda vez que Luciano andava por ai sozinho era assim.

2 comentários:

Claudinha Nogueira disse...

Como todos os textos dela!
Volte sempre que quiser no meu blog.
Vou postar mais textos de Martha Medeiros =)
Gostei do seu blog tbm.
vou colocar ele nos meus blogs visitados,para voltar aki mais vezes =)

obrigado pela atenção.

Anônimo disse...

os pensamentos alheios sempre são divertidos. :D

vou incluir na minha lista de blogs, ok?

o/