quarta-feira, 22 de abril de 2009

Canção da Morte - Capítulo VI

-Milorde! Desça aqui quando puder, está bem?

Max estava desabotoando as calças quando ouviu a voz lhe chamando da sala de estar. Resolvera que tomar uma ducha fria lhe seria algo muito reconfortante naquele momento de tensão. Sempre fora assim, quando estava muito nervoso, tomava um banho demorado enquanto tentava não pensar em nada. Porém, nem isso lhe ajudou muito.

A água gelada lhe descia pelos cabelos da altura do queixo. Eram tão negros que quase não brilhavam quando batia sol. Era liso e grudava-lhe sobre um dos olhos todo o tempo. Não que isso lhe incomodasse, mas o contrario. Era como se fosse seu escudo.

Ele se se encostou à parede então. E então fechou os olhos, enquanto massageava o topo da cabeça. Uma estranha sensação tomava conta de todo o seu ser. Não conseguia se libertar da sensação de vazio dentro de si, mas ao mesmo tempo tanto pensamentos lhe ocorriam que era como se pesassem sua cabeça. Ela não doía, estava pesada e formigando apenas.

Quando desligou a água, cobriu-se com um roupão vermelho confortável, que parecia lhe abraçar o corpo, assim como sua esposa jovem nos momentos de desolação. Ele se sentia quente por fora, tão quente que ducha alguma poderia apagar. Mas, por dentro, ele já estava gelado. E já fazia muito tempo.

Max se mirou no espelho por algum longo tempo. Por incrível que pareça, ele sentia que já não era o mesmo de alguns anos atrás, aquele jovem estudante que pretendia ser policial. Seu corpo era forte, mas se sentia como se estivesse mirrado, fraco. Mínimo. Não era essa a realidade. Era aquela carcaça que deixava Mary tão protegida nas noites em que o pesadelo lhe atormentava. E era isso a única coisa que lhe acalmava: Mary. Ela era seu refugio. Mesmo naquele tempo em que a luxuria tomava conta de seu ser, nas noites de sexta feira, era ela quem lhe importava. Max apenas procurava a mesma mulher em outro corpo. E ele sabia disso.

Ele desceu as escadas precariamente. Estava acostumado a quase tropeçar em um determinado degrau que rangia ao ser tocado. Quando terminou de descer as escadas, ainda fechando os botões da camisa lisa, encontrou Mary sentada ao piano, tocando uma musica lenta. Ela viu que ele descera e lhe lançara um sorriso. E recebeu a devolução.

Quando terminou a canção, ela sentou-se um pouco mais para o lado e convidou o marido a se sentar a seu lado. Ele o fez de boa vontade. Os lábios dos dois se encontraram por alguns segundos, enquanto um dos braços de Max estava em sua perna e o outro no pescoço da Mary, as mãos dela estavam repousando em seu colo, numa posição de menina casta.
Assim que se separaram, ela virou-se para o piano e disse, lentamente.
-Como se sente ao encostar nesse piano?

Max sorriu e então refletiu. Sentia uma paz, como se as teclas lhe convidassem a serem tocadas por ele. Totalmente diferente do piano de Marina. Ele era denso, que repelia quem se sentasse por lá. Foi quando entendeu que o instrumento era o reflexo do dono. Mary lhe convidava a fazer parte dela, enquanto Marina repelia a todos em seu redor. E isso impressionou Max.
-Eu me sinto como se estivesse com você – e lhe lançou um sorriso singelo – sinto a maior paz que já tive, como se já o conhecesse há muito tempo, mas que tem muito a me surpreender ainda. – piscadela

Mary retribuiu a piscadela com um olhar provocante de ingenuidade, que só ela conseguia fazer. Max se aproximou e roçou seu nariz ao dela, fechou os olhos e aproximou os lábios. E então, mais uma vez os lábios se tocaram, e não mais se soltaram.

2 comentários:

Monique disse...

Fiquei admirada com sua capacidade de despertar sensações. Mergulhei na história. Pude até ouvir o som do piano e sentir o interior de Max aquecendo devagar *-*

felipe ! disse...

tava sentindo falta de ler por aqui :)

sentir-se frio, gostei dessa parte. vai ver por quê, né... hehe.