terça-feira, 13 de outubro de 2009

Carta da Madrugada

Joana

Quando ler esta carta, deverá ser a manhã de um belo dia de sol. Eu a escrevi durante a noite, enquanto você dormia abraçada ao travesseiro roxo. Preparei esta mesa de café da manhã para que possa desfrutar assim que acordar, olhando pela janela em frente a este papel, vendo que naquela pequena árvore contem bilhares de borboletas imaginárias, que você pode ainda não as enxergar, mas ao final da carta, as verá.
Camisolas. Ora, que idéia mais fabulosa. Uma gaveta só para camisolas. Sabia que adorava guardar suas coisas bem esparramadas, mas uma gaveta só para camisolas me parece algo genial. Sempre vejo gavetas com papéis, roupas íntimas juntas, camisetas ou camisas juntas, calças juntas. Mas unicamente camisolas é a primeira vez que vejo.
A minha noite de chegada a São Paulo fora esplêndida, Joana. Sinceramente, havia muito tempo que não me divertia tanto. Sua sensibilidade em me buscar no aeroporto junto com meu pai doente fora espetacular, não esperava isso. E esperava menos ainda que fosse usando seus tênis roxos. Não havia me dito que os tinha perdido? Enfim, esqueci de lhe perguntar isso ontem.
A propósito, por volta desta hora, devo estar a caminho do centro da cidade. Precisei encontrar meu pai por lá para ver alguns problemas com meus documentos. Perdi boa parte deles com o contrato falso. Não quis lhe acordar porque parecia tão jovial deitada naquela cama. Resolvi então lhe preparar essa mesa de café.
Joana, queria lhe dizer que adorei a forma como manipulou a noite para que ela durasse mais tempo que nenhuma outra noite durou. Sentia uma imensa saudade da sua voz, da sua boca, dos seus cabelos rubros. Do modo como me abraça e consegue sentir meu coração bater entre suas mãos. De tocar meu peito e sentir além de uma carne como qualquer outra. E por fazer de mim algo pensante e com sentimentos, sinto-me alguém absurdamente mais humano depois dessa noite.
Por essas e outras que, durante algum tempo, ficarei longe de ti. Amo-te e, enquanto estive fora, pensei em você o tempo todo. Mas acredito que toda nossa conversa de ontem seja compreendida. Eu realmente a amo e não posso ficar na sua vida como um peso morto, igual ao meu irmão. Preciso de um emprego e preciso de uma vida social. Quero pedir-lhe em namoro, noivado, casamento ou que diabos de nome tenha esses compromissos, garotinha. Quero cuidar de ti pra sempre, e sempre ter-te comigo.
Te amo, Joana.


E sempre irei.
Edgar.

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