segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Comi carne crua. Babei sangue.



Comi carne crua. Babei sangue. Só não sabia se era o meu ou do animal morto.

Mordia cada pedaço com uma força descomunal. Quase animal. Sentia meus caninos transpassando e chegando a minha língua, sentindo aquele misto de dor e prazer naquele sentimento sufocante. Era o auge, o ápice. Aquela carne exalando um cheiro acre de recém cortada. Mas minha raiva precisava ser descontada, e nenhum animal vivo merecia aquilo.

Eu estava naquela tênue linha entre o deprimido e o deprimente. Não sentia bem nada, só o cheiro da carne, a dor na língua, uma queimação na nuca, o sangue quente escorrendo da boca. Babava feito uma criança. Só que vermelho.

Pela janela conseguia ver aquelas pessoas andando na rua. Nenhuma delas estava de fato na rua, com a cabeça longe metros, talvez quilômetros de sua localização original. Nenhuma dela via o terror que acontecia na janela. Nenhuma delas vira meu jantar sangrento. Nenhuma delas queria ver, mesmo se o visse. 

Nenhuma delas reconheceria o meu jantar. Já estava extremamente mutilado.

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