quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Muralhas de um coração I


Ao contrário do que dizem por aí e do que penso, eu tenho um coração de carne como todo mundo. Não é de pedra, de gelo, peludo ou seja lá qual seja a atual definição que dão dessa vez. É um coração como qualquer outro.
A maior prova disso é que, se você me cortar, eu vou sangrar como qualquer outro. Provo: sou um ser humano e tenho minhas limitações como qualquer outro.

Mas nem por isso sou igual. Novamente posso provar.

Sempre senti esse músculo involuntário um tanto quanto patético. Fica se retorcendo por coisas idiotas e por pessoas sem merecimento. Parecia que cada vez que ele se retorcia, um hematoma novo nesse pedaço de carne surgia, como se alguém arremessasse uma pedra ou atirasse uma flecha ou algo que o valha.
Óbvio. Todo mundo é assim. Sofre uma decepção e se machuca, blé.

Para evitar esse tipo de injúrias, resolvi fazer uma coisa que li uma vez num livro. Quer dizer, algo bem semelhante. Num conto, um rapaz arrancou seu coração e o guardou num cofre para evitar qualquer tipo de sofrimento. Obviamente não funcionou muito bem, uma vez que o coração ganhou vida própria por estar fora do corpo do rapaz. Mas e se o cofre estivesse no meu peito? E se não fosse um cofre, e sim paredes impenetráveis? Melhor: muralhas. Estaria imune a esses espólios. Pedras seriam desviadas e flechas seriam quebradas quando arremessadas no cofre ou muralha, seja lá que raios eu colocasse. Ainda estaria em mim meu coração, mas selado a vácuo para impedir detritos externos.

Pensei. Não posso levantar essas muralhas a qualquer um. Devo baixar a guarda a algumas pessoas, claro. E essas devem ser bem escolhidas. Meus métodos, assumo, nunca foram bem esclarecidos, pois apesar de ser bem racional, eu levo meus pensamentos por um lado bem passional. Como uma porta traseira da imparcialidade. Uma divisão quase que perfeita do racional e passional. Deve ser algum efeito colateral de trancafiar meu músculo num cubículo de pedra. Ele deve se manifestar de alguma outra forma, enfim.

O fato é: eu ergui muralhas em torno do meu coração para não permitir que qualquer um possa machucá-lo. Isso me tornou mais frio?  Talvez. Isso impede de demonstrar meus reais sentimentos? Talvez. Mas talvez fosse a maneira mais sadia de não me machucar com tanta facilidade.

Mesmo machucando quem tenta penetrar por entre essa muralha.

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