Conforme as lendas antigas, os gregos construíram uma
grandiosa cidade e quiseram que ela tivesse um Deus padroeiro. Decidiram então
instituir uma competição entre os favoritos, que no caso eram Poseidon, rei dos
mares e Athena, dona da sabedoria. Aquele que desse o melhor presente a cidade,
seria padrinho e a cidade seria batizada em seu nome. Então Poseidon, com seus
bondosos olhos azuis, num bater do seu tridente, fez a água dos oceanos emergir
para a terra e assim criou o cavalo, que serviria com meio transporte para a
população. Mas o fato é que o cavalo era meio arrojado e muito feroz, e os
habitantes tinham certa dificuldade em domá-lo. Palas Athena,
com seu sensato olhar cinza, domou rapidamente o cavalo, e ainda criou a
Oliveira, que é uma árvore que fornecia frutos para a população, óleo para suas
lanternas, lenha para suas fogueiras, essências para seus incensos, azeites e
óleos medicinais entre outras funções.
Assim surgiu a cidade de Atenas. E assim surgiu a Oliveira,
a árvore da sabedoria. E assim eu começo a história.
Eu não vim para refletir sobre antigos mitos gregos. Apesar
de acreditar que por vezes, os deuses podem sim se transformar temporariamente
em humanos, para nos testar, nos dar conselhos e ensinar-nos lições, não sei se
creio duzentos por cento em tudo isso. Eu vim hoje para falar do Sr. Oliveira.
O Sr. Oliveira era um rapaz antes de qualquer coisa. Jovem.
De natureza simples. Seus olhos eram azuis como o mar, mas com pequenos traços
de cinza e amarelo. Era esperto e gentil. Particularmente não me recordo de
nenhum momento que tenha sido rude, até mesmo quando o vi nervoso com alguma
coisa. Sentia a necessidade, por mais que negasse pelo que percebi, de se ligar
ao mundo, apesar de já ter boas conexões pelo que percebi.
Era um rapaz extremamente peculiar. Esbanjava felicidade nos
momentos que o vi. Adorava sua cidade natal, sua terra, e falava dela com um
fervor que causava uma vontade absurda de conhecer. Era incrível como ele tinha
esse dom, o de convencer usando essa paixão natural que tinha. Falando em
paixão, era um apaixonado por urbanidades e arquitetura. Café e filmes de
terror. O que muito diferia da minha personalidade, pois sou o maior medroso do
universo. Tem até alguns filmes que ele me recomendou que eu nunca assisti, e
agora tenho até certa curiosidade em vê-los. E os que eu vi ele simplesmente me solta
um 'Mas esse filme de terror é muito fraco!' ou 'Stephen King escrevia livros
de terror de histórias que eu imaginava quando era adolescente. Aquilo não
assusta ninguém' ou algo que o valha. Convém dizer que eu discordava um pouco,
o que gerava bons debates. Éramos absurdamente diferentes, em quase que todos
os aspectos.
Ele era extremamente realista. Ele sabia diferenciar bem o
que era ficção do que não era e, por isso, acabava se tornando meio cético com
coisas mais.... infantis eu diria. Não estou dizendo que isso é uma coisa ruim,
pelo contrário, é só um aspecto que achei curioso. E esse realismo dele o fazia
ser muito sensato, o que o, aparentemente, deixava com os pés no chão. Mas é
incrível como cada vez que eu começo a divagar sobre ele, lembro de mais
coisas. Apesar de tudo isso, ele era um baita dum sonhador. Ele tinha seu plano
de vida, carreira, sabia o que queria muito cedo. Isso pode parecer para alguns
uma coisa normal, mas eu achava fantástico alguém tão jovem com sonhos tão
altos. E pensava alto mesmo, e pelo que percebi não tinha medo de mostrar isso.
Aliás, nunca o vi ter medo de nada.
Lembro dele e começo de novo a recordar o carinho que ele tinha
pelos amigos. Muitas vezes ele simplesmente se irritava ou cansava, mas ele
preferia simplesmente guardar para ele, pelo simples 'não vale a pena'. Ou
outros motivos nunca esclarecidos. Ele era um bom ouvinte, sempre estava de
prontidão para ouvir quem precisasse dele pelo que percebi, mas ele às vezes
sentia necessidade de falar, mas sempre guardava. Dificilmente o vi reclamar ou
falar que o estivesse de fato incomodando, algo que não seja físico, lógico.
Claro, ele adorava criticar. Mas é bem diferente. Paulistas e Paulistanos era
um assunto à parte. Aliás, convém dizer que o Sr. Oliveira apenas morava em São Paulo, mas era na
verdade do Espírito Santo. Viera apenas estudar e estava havia oito ou nove
meses, não me recordo com certeza.
Eu tenho certo receio em voltar a olhar algumas conversas
que tive com ele. Minha memória ainda está bagunçada e cheia de lembranças e
citações aleatórias e coisas bagunçadas. Lembro que fui exemplificar uma
metáfora para ele e simplesmente o balancei. Sim, eu o peguei pelo braço e o
chacoalhei. Lembro da cara de assustado dele e ainda me arranca um sorriso. Mas
também lembro que mais tarde ele me disse que tinha entendido de primeira, que
não precisava daquilo. Então rio de novo. E de certa forma fico triste com tudo
isso.
De qualquer forma, eu poderia passar horas ou até dias
contando fatos sobre o Sr. Oliveira. Mas eu não consigo passar mais que alguns
minutos falando dele sem de fato me comover. Porque, mesmo que nos conhecemos
por pouquíssimo, sinto uma ligação muito forte com o Sr. Oliveira. Não sei até
que ponto isso era verdade para ele também, mas para mim foi. Tanto que resolvi
escrever todo esse texto só para poder, assim, eternizar o não eterno Sr.
Oliveira, que nos deixou dia vinte e três de abril de dois mil e quatorze,
antes de completar vinte anos.
Deixo, por fim, uma homenagem sonora, de uma música que o Sr. Oliveira gostava. E que muito convém a ocasião. Daydreamer - Adele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário